Endless Summer!
Vivendo o verão sem fim

Sul da América¹

Pensei em escrever um post sobre as desventuras que ocorreram no dia da viagem pra Buenos Aires, mas ia ser um saco. Tenho assuntos mais interessantes pra redigir, na moral. Mas só pra vocês saberem, segue aí a versão reduzida:

1)      Perdi o voo que ia me levar às 9h10 pra São Paulo.

2)      O albergue no qual eu dormi a primeira noite era um muquifo do cão.

No final das contas, tudo terminou bem: embarquei em um voo direto pra Buenos Aires às 18h, sem conexão em São Paulo (só escala no Rio) – e só fiquei a primeira noite no albergue, e o administrador do lugar era um tiozinho bem simpático.

Inclusive, esqueci meu travesseiro ortopédico superbacana no albergue (Hostel Dreams, heheh), e voltei lá pra pegar dois dias depois.

Vou dividir essas primeiras experiências em categorias:

CHEGADA

Cheguei 00h40 na capital portenha e meus chefes – um casal legal demais – estavam me esperando. E, esperando pra me pegar no esparro, estava também um FRIO DO CACETE. 6 graus, putaquemepariu, pensei,

“Eu sou vacilão demais, deixei os agasalhos mais brutais em casa…não queria volume na mala, achei que a primavera aqui era quentinha, ou não-tão-fria, e tomei no roskoff. Vou ter que fazer fogueira em tonel de lixo pra me aquecer, no melhor mendigo style”

Mas que nada, foi um frio atípico. Quer dizer, ainda tá frio. Pra quem conhece, tá fazendo aqui na primavera o mesmo frio que faz no inverno em São Paulo: 14-18 graus durante o dia, 8-12 graus à noite. Nada de mais, é verdade – mas eu, que detesto répteis, reconheço meu parentesco com eles: gosto do calor, preciso dele (calango nordestino, criado no quentinho satânico da frenética capital baiana). Por isso, tenho usado meu paletó queimado de cigarro o tempo todo, ando por aí parecendo um mórmon.

TRABALHO

No dia seguinte, às 9 da manhã, já tava batendo ponto no escritório. Fui apresentado ao pessoal: 5 meninas, 2 caras, todos argentinos. Troquei ideia, comecei os primeiros contatos. Fui bem recebido, uma galera bacana, clima de amizade e companheirismo no escritório, quibeleza. Todos jovens, entre 25 e 35 anos, quase todos falam inglês, o que facilita muito quando o português não serve. Só o designer da empresa (cujo sobrenome é PICCA, a título de curiosidade escrota) não fala inglês, mas ele é bacana, e parece com Robert Carlyle, então viva.

O escritório é iluminadaço, maior sol – o que me leva a ficar trabalhando de óculos escuros, brau pra caralho mesmo, mas foda-se. E tem uma varandinha, onde vou fumar, quando os fusíveis estão ameaçando queimar com alguma tradução macabra.

Comecei a aprender a usar um software de tradução, o Trados. Eu, que sempre traduzi na mão grande, usando Google e nada mais, to me mordendo um pouco, mas é tranqüilo. E em breve a empresa vai fazer um curso interno para o ensino desse e de outros softwares, aí wheeeee.

LÍNGUA

Ah, o español…eu realmente achei que a comunicação fosse ser mais difícil. Achei que ia ter que pedir pra repetir o tempo todo, ter eu próprio que repetir, ou ficar balançando a cabeça e sorrindo quando na verdade não to entendendo porra nenhuma (isso acontece pouco, mas acontece, heheh). Porém, o português padrão e o espanhol padrão são bem parecidos, então se, numa conversa, eu e meu interlocutor (tomem aí um interlocutor na cocó) mantemos os registros formais das línguas, a comunicação acontece de boa.

E uma parada interessante que acontece: o povo me entende melhor quando falo português do que quando tento falar portunhol (meu sotaque espanhol gênio, heheh).

Conversei com motoristas de taxi, velhinhas donas de banca, garçons, passageiros de ônibus – sempre em português, no queixão mesmo. Até agora, só tive problemas de diálogo com um motorista de ônibus: fui perguntar pra o cara quanto custava a passagem, e o cara ficou falando comigo no que deve ser um braulês argentino, não entendi picas. E teve um gordo babaca dono de um mercadinho: fui puxar conversa, perguntando como se falava “carteira de cigarro” em espanhol e ele, com toda a preguiça e tacanhice do mundo, claramente não fez a menor questão de tentar entender.

Em breve devo entrar em um curso de espanhol, ou tomar aulas particulares, estudar em casa e tudo o mais. O que acontece é que, pra fazer turismo, pra se virar, o português basta – mas, pra viver aqui, tem que aprender mesmo, não tem jeito. Porque nem todo mundo vai conseguir me entender, e não é todo mundo que me entende. E, em um grupo de argentinos, só vou entender quem tá conversando diretamente comigo – os diálogos dos argentinos entre eles, em um grupo, é ruído branco puro, gibberish, não entendo nada. As conversas mais descontraídas exigem castellano fluente, então lá vou tomar aulas.

ARGENTINOS

Com pouquíssimas exceções, mencionadas acima, todos os argentinos com quem tive contato foram simpaticíssimos (usando um superlativo que sua tia deve usar). Solícitos, educados, prestativos, corteses, cada um à sua maneira, todos muito gentis. Seja dando informações na rua, ensinando a usar a escrota maquininha de moedas dos ônibus, ou simplesmente conversando fiado, fui bem tratado sempre. Não tive um grama sequer de picuinha ou hostilidade por ser brasileiro, por causa da rivalidade do futebol ou por qualquer outro motivo idiota. Muito pelo contrário, se mostram interessados em saber porque eu estou aqui, o que estou achando, se podem ajudar, e fazem perguntas do Brasil, etc.

(Inclusive, quando falo que sou da Bahia, quase sempre recebo um sorriso. Aparentemente, todos conhecem a fama da terra do ENDLESS SUMMER, e sem dúvida gostariam de curtir uma cervejinha sucesso aí, e curtir o calor da terra e das pessoas. Reclamem, putas).

Aliás, me dá um pouco de vergonha imaginar o quanto os argentinos tem que aturar de aluguel quando viajam pro Brasil. Ou não, né? Eu nunca encontrei argentinos antes de vir pra cá, também nunca vi como eles são tratados aí. Minha experiência aqui com eles tem sido bem bacana até agora, mas não quer dizer que a de todos os brasileiros também seja.

Cada cabeça é um mundo, e toda generalização é perigosa. O diabo mora nos detalhes porque, como ele mesmo disse, “os detalhes são tudo o que importa.”

(Perólas de sabedoria. Porque já estou escrevendo há uma cara, aí começo a ruminar meus pensamentos circulares de sempre.)

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Podia ainda falar do rango daqui, de minhas desventuras procurando um lugar pra alugar, podia falar de mais mil coisas mas são assuntos pra outro dia. Esse post já tá gigante, tá um frio do cacete, vou fumar um careta e dormir.

1 título de uma música do skank, do disco “o samba poconé”, a trilha sonora desse post.

13 Respostas to “Sul da América¹”

  1. Antigamente, quando o Brasil era um destino barato para os argentinos, presenciei algumas cenas bem escrotas protagonizadas por eles. Provavelmente vinham para cá os mais rasteiros entrre o povo. Hoje, são normais.

    Fale das comidas, preguiça. Experimente choripán, alfajor Capitan del Spacio (o melhor – tem num quiosco perto na quadra 1500 da Corrientes, lado ímpar), se meta num ônibus de city tour para ter idéia de onde estão as coisas na cidade. Compre as Fierro para mim.

  2. Flor, se divirta por aí. Já já você está entendendo os atuais ruídos porteños entre eles. E, assistir novela brasileira dublada em castellano é uma das experiências mais bizarras da existência terrestre, mas vale pelo aprendizado. E, please please, VÁ ao El Obrero, restaurante com o melhor bife de chorizo do mundo inteiro, que fica em La Boca. Bjo

  3. bom ler isso aqui 🙂

  4. uhuuuu!!
    muito gênio, adoro suas descrições. é muito seu olhar, de fuder!
    e viva vc na argentinaaaa, babe!
    daqui a pouco vc conhece alguns argentinos cuzões, mas estes vc deleta, rs.

    morar perto del Ateneo rules! Ap genio rules! vai arranjando minha vaguinha na empresa aí! heheheh

    beijoooos!

  5. Meu filho….. eu descobri que é perda de tempo ^_^ estudar espanhol e italiano! Voce chega nesses lugares, fala portugues, eles falam espanhol/italiano e todo mundo se entende… principalmente quando vc tem grana na mão pra gastar na loja deles heheheheheheheeheh

    vá estudar tcheco porra haeuehueheuheauehueahuea ^_^

  6. Bom ler vc, sensação que vc está perto…hehehe
    Váááárias sinapses se formando, hein? Sensação de coisa nova é boa pácaráleo… bjinho

  7. Baby, AMEI ler isso…
    Super divertido, bom ver que vc ta animado, e ta se dando bem por ai…

    Uma vez, em uma boate aqui do Rio, conheci um Argentino, mó figuraça ele… enfim…

    Tô feliz que ta tudo dando certo! ^___^

    Beijinhos, e boa sorte baby!

  8. Cara

    Valeu. Nunca tinha lido um relato seu, quando estava em Salvador. Achei muito legal. Talvez a distância tenha o dom de aproximar.

    Estamos muito contentes que tudo esteja correndo bem.

    E não deixe de ir aoEl Ateneu, uma super biblioteca/livraria/cds/dvds, que al~em de completa é chique.

    Força.
    Sergio
    E nãod eixe de

  9. Mann, fico muito feliz por essa sua nova jornada. Sei que vai aproveitar muito!

    Al Toro!!!

  10. Não vai escrever mais? Estou ansiosa por novos relatos. Como toda mãe coruja, acho seu estilo de escrever o máximo. Bjs

  11. Jà ri muito aqui. Como toda prima coruja, eu tambem acho seu estilo de escrever o maximo 🙂

    Fiquei interessada nesse tal Trados. Vez ou outra faço umas traduçoes (toscas porque como bem se nota eu nao sei mais falar portugues hehe), serà que um programinha assim facilitaria a minha vida? Fale mais sobre ele!

    Beijocas!

  12. Irmão, eu me lasco de rir com as coisas que você escreve! rs

  13. atado de cigarrillos!! mas a essa altura, você já descobriu isso, né? rsrsrs

    eu é que acabei de descobrir seu blog…

    beijo, menino!

    (e aquele café, heim?)


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